Biografia



Ferreira do Ceará
por Pedro Bloch

Antônio Ivaldo Ferreira do Ceará (hoje com mulher jóia e dois filhos) nasceu em Timbauba (Ceará) no dia 17 de outubro de 1940. Com cinco anos mudou pra Fortaleza e, hoje mora na Alameda dos Miosótis, num bairro em que rua só tem nome de flor. Ferreira, desde menino assinzinho, já era vivido, sofrido e possuído de uma febre por lápis com que ia riscando, riscando, com uma força interior que ninguém compreendia, nem ele mesmo. Apanhava sempre, que rabiscar era coisa de vadio, vagabundo. Jogava pelada. Um dia machucou a perna (aqui assim) e, ficou na “cerca” que havia, esculpindo com um canivetinho raiz de imbaúba, querendo fazer “coisa que tivesse liga com arte”, ainda sem saber que arte era.
Passou um turista e vendo seu trabalho perguntou se era artista. Que era isso? Se era escultor. Que negócio é esse? E, pra espanto seu o homem comprou aquilo. Só, então, começou a desconfiar muito ligeiramente que seu trabalho devia ter algum valor. Mas a fé cresceu quando uma francesa viu o que fazia e passou a comprar tudo o que produziu, durante cinco anos e até a vender nos Estados Unidos, imagine!
Um dia alguém perguntou porque não assinava. E era pra assinar? E como surgisse gente imitando seu caminho não quis confusão e firmou: Ferreira do Ceará.
Trabalho com pano de rede tijubana, madeira, palha, punho de renda, varanda, coco-babão, tecido (aplique) cadarço de sapato, corda, metal, tinta, cimento.
Quis, no começo, procurar uma técnica que não sabia o que era.
Cismou um dia de fazer talha. Imaginação tinha demais, mas cadê instrumento? Sem saber que existiam, inventou todos de novo.
Fez esculturas que só ele mesmo. Murais. Um dia bateu a cisma: tapeçaria. A pessoa que disse que não ia conseguir nunca ficou fascinada quando viu a primeira e comprou depressa.
Ferreira achq que “fazendo é que se vai encontrando, sabe como é?” “procurei fazer até fazer”. Bicho é totem, até.
Ele, “anda muito atrás das coisas. De olhar tanto é que vê os defeitos que tem. Hoje procura harmonizar e balancear o material todo. Ali tem material pesado? Cuidado! Alivia ali. Equilibra. Quem não souber balancear se perde. Olha muitas vezes o trabalho, bem olhado. Acorda olhando, deita olhando, sonha olhando e vai equilibrando... equilibrando... Tem que ser bem feito. Deita cismado e acorda preocupado. Tem que ser bem feito”.
Só foi até o começo do ginasial que seu ofício era outro. Até música fez, com um violão que ganhou numa rifa e aproveitou para, com dois parceiros, ganhar um primeiro prêmio de festival.
Nunca tive professor, nem sabia que alguém ensinava aquilo. Fui indo... fui indo, aí descobri o meu. Não deu tempo de ver arte dos outros. Ai garrei e fiz a minha. Fiz até mural com madeira e fundo de garrafa pra ensinar o caminho da luz. Fui indo... fui indo e até hoje ainda tou indo”.
Quem não sentir a obra de Ferreira do Ceará ou “é ruim de cabeça ou doente de gosto”. Vocês vão amar seu trabalho.
E que Ferreira do Ceará continua balanceando, balanceando, equilibrando, equilibrado.
E é disso que o mundo mais precisa. Falei.

Painéis
1972 – Painel para Agência do Banco do Brasil em Teresina. Executado em madeira medindo 22 metros quadrados. Considerado o maior do Nordeste brasileiro.
1973 – Painel em madeira entalhada para Agência Nordeste brasileiro.
1973 – Painel em madeira entalhada para a agência do Banco Francês, Fortaleza.
1973 – Painel em cimento para a residência de veraneio do Governador do Estado do Ceará. Praia Icaraí (CE)
1974 – Painel em madeira para a Superintendência de Obras do Estado do Ceará (SOEC), Fortaleza.
Painel para o edifício do Banco do Brasil “Agência Centro”, trabalho realizado no 5º pavimento. Fortaleza.
Execução de um painel em madeira para o Dr. Antonio Antunes, Rio.
1975 – Execução de um painel em madeira para a agência do Banco do Brasil. Cajazeiras, Paraíba.
Painel em cimento, executado na residência do engenheiro, César Cals de Oliveira Filho. Rio de Janeiro.
Execução de um painel em madeira para a agência do Banco do Brasil na cidade de Santiago, Chile.
Painel em madeira para agência do Banco Mercantil do Brasil. Rio de Janeiro.
1976 – Painel em madeira para a agência do Banco do Brasil, na cidade de Luzilândia, Piauí.
Painel em cimento realizado no Teatro Aplicado. São Paulo.
Execução de um painel esculpido em concreto para a escola PRO TEC S/A, Rua Augusta. São Paulo.
1971-1977 executou mais de 20 painéis em diversas residências, na cidade de fortaleza.
1980 – Cristo para a Agência do Banco Bandeirantes. Rio de Janeiro.
1976 – Faculdade Ibero Americana adquiriu as esculturas de Lampião e Maria Bonita.

Prêmios

1970 – XXI Salão Municipal de Abril. 1º Lugar.
1971 – III Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará – 1º lugar. Escultura.
1976 – V Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará – 1º lugar. Escultura.